o fotógrafo do passado (I)

o que quero eu dizer com fotógrafo do passado? não é alguém que se congelou e viajou no tempo até ao nosso presente, mas está relacionado com esta palavra que é tomada como certa. as nossas experiências quotidianas, que decorrem a velocidades reduzidas e distâncias curtas, dão-nos a sensação de que a vida decorre instantaneamente. de facto, a vida decorre instantaneamente, contudo as sensações que absorvemos são já passado pela altura que nos chegam.

para ir directo ao assunto, à nossa volta tudo é passado. não só é passado, como também é um passado descoordenado! o som e a imagem estão dessincronizados. não acreditam em mim? façam as contas, eu dou-vos os dados que precisam: a velocidade do som(1) é 1236 km/h e a velocidade da luz(2) é 1079252850 km/h. ou seja, o som demora uma hora a percorrer a distância recta que liga viseu a paris enquanto que, no mesmo tempo, a luz consegue viajar do nosso planeta até à vizinhança de saturno.


então, porque nos parece tudo tão bem coordenado e instantâneo? por duas simples razões que eu passo a explicar. primeiro, porque vivemos a distâncias bastante curtas. passo o exemplo de uma conversa entre duas pessoas separadas por 1 metro: as palavras demoram 0.0029 segundos a atingir o destino(3), mas a imagem dos lábios a mexer demora apenas 0.0000000033 segundos. os nossos cérebros estão cientes desta falta de sincronismo e corrigem o problema automaticamente. essa é a segunda razão porque a vida nos parece um instante. o nosso cérebro é como um projector que nos mostra o filme depois de editado.


certamente, já todos assistimos a uma tempestade com trovoada e tentámos deduzir se esta se aproximava ou afastava de nós ao contar os segundos entre o flash de luz e o estrondo do trovão. a grandes distâncias, a disparidade começa a ser notória. esta pequena introdução estendeu-se além dos meus planos e parece que vou deixar o assunto principal para uma segunda parte.

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(1) representa a velocidade do som no ar seco, à temperatura de 20 °C.
(2) representa a velocidade da luz no vazio.
(3) desprezando os tempos de processamento interno no corpo humano.

quinta-feira, 7 de março de 2013

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